Em abril, Amor Recreativo completa seu quinto mês de existência, desde o lançamento em novembro de 2023. Na próxima terça-feira, 16/04, farei o último grande evento para celebrar esse livro que eu julgava ser o mais fraco dos três que organizei ano passado e que tem me surpreendido com o tamanho de respostas amorosas dos meus leitores, sendo até escolhido para clube do livro.
Em preparação a esse evento que estou morrendo de medo de flopar (afinal já será o quinto ou sexto, todo mundo que me ama já comprou o livro, o que mais eu espero das pessoas?), estou me virando nos trinta entre um trabalho novo e as aulas e leituras do mestrado para produzir cartões e marcadores de página, uma nova edição da minha plaquete artesanal Fruteira – veja como eu monto esse livreto aqui – e para planejar uma conversa com meus amigos da Revista Lira durante o evento sobre o processo de criação do livro. E é isso o que eu trago na carta de hoje.
Depois de pronto, é muito fácil esquecer o trabalho que deu para fazer uma coisa. As mães quando dão à luz em um processo árduo e doloroso são inundadas de alegria pelo hormônio ocitocina assim que pegam seus bebês no colo, instantaneamente esquecendo o sofrimento de minutos atrás.
Com livros não é muito diferente. A noite de autógrafos é a festa de boas-vindas daquele livro que passou meses, às vezes anos, sendo gestado e pode enfim ser celebrado, devolvido ao mundo, “toma que o filho é teu!” – pois quando escrevemos, o que era só nosso passa a ser do outro; taí a crítica literária para ficar encontrando cabelo em ovo, dizendo que o autor quis isso e aquilo ou que seu texto é sobre isso e não aquilo. Na festa, nos regozijamos com o carinho dos leitores, com os elogios e até contamos anedotas sobre o processo de publicação: a escolha da capa, a diagramação do miolo, o atraso na gráfica, o medo de não ficar pronto a tempo.
Mas pouco olhamos para o processo que veio antes, tão aliviados que estamos de pôr no mundo uma obra que deu tanto trabalho. As horas empreendidas na escrita de cada poema, o hercúleo trabalho de selecionar o que entra e o que fica de fora, de descobrir se aqueles textos conversam entre si e sobre o que conversam. Sobre o que será aquele livro. Todo esse processo acontece a portas fechadas, sem plateia, e com frequência nos consome e faz querer desistir. Tudo isso ocorre antes de enviar o arquivo final para a editora e às vezes se repete durante o processo de revisão.
Sabia que Amor Recreativo tinha outro título quando enviei para a editora? Ia se chamar “Todo amor que transborda de mim”, mas conversando com a Thaís Campolina que assina a orelha – e deu pitacos valiosos entre o aceite do livro pela editora e o envio da versão final revisada –, acabei enxergando mais o aspecto mais galhofeiro dos poemas e menos melancólico que o primeiro título sugeria. “Todo amor que transborda de mim” certamente não teria seis opções de capas coloridas.
Para quem escreve, importa tanto como o livro foi feito quanto como ele veio ao mundo. O que desperta a curiosidade são os bastidores dessa criação: por que esses poemas e não outros? Por que nessa ordem e não em outra? O que você pensou quando escreveu esse verso? Essa cena aconteceu mesmo ou é fruto da sua imaginação? Quais são as suas referências? De onde você tira a sua inspiração?
Para responder a essas perguntas, tive que revisitar meus cadernos. Onde o Amor Recreativo se escreveu antes de virar arquivo no computador? Encontrei os poemas do livro divididos em quatro cadernos usados de 2021 a 2023. Nessa época o projeto de livro – do qual falei um pouco nessa outra carta – ainda nem existia: eram só poemas ou esboços que nasciam quase sempre sem títulos de um impulso criativo provocado por uma memória, uma cena, um desejo. Trato meus cadernos de poesia como diários. Antes de escrever qualquer palavra, dato o alto da página, e só então deixo fluir a ideia. Alguns poemas nascem prontinhos, como parece ser o caso de “Ressaca”:
Digo “parece”, porque não tenho certeza. Os cadernos de poesia ficam em casa, na rua saio com cadernos menores, às vezes me viro só com pedaços de papel. Então se alguma me inspiração me acorre fora de casa, anoto como posso e passo a limpo depois no caderno de casa. No caso de Ressaca, não me lembro se anotei sua semente em outro lugar por aí ou se ele nasceu realmente nesse pé de página no dia de finados em 2022.
Já o “Reage” eu acabei de descobrir que foi escrito há 1 ano e 1 dia, no 13 de abril de 2023, num desses cadernos de levar pra rua, e tinha mais versos antes de eu editá-lo no computador. Nesse dia eu fui a um almoço de networking, passeei na livraria e encontrei amigos num bar, foi um dia alegre. Não lembro se tinha um boy específico orbitando meus pensamentos nem em que momento parei para registrar esses versos no papel, mas sei que tive a ideia de expandir o meme “reage, bota um cropped” em um poema irônico.
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O “Amor nº 21” nem chegou a ser passado a limpo. Foi anotado num pedacinho de papel de recados que fica ao lado do telefone na cozinha da casa do meu avô. Era noite, só estávamos os dois na casa e bebíamos vinho na cozinha depois do jantar, ele me contando suas primeiras paixões antes de conhecer minha avó. Anotei sua frase tal como ele me disse, inebriado: “o primeiro amor é uma febre, os seguintes, suspiros” e o resto do poema nasceu ali mesmo, mas o punchline só veio na edição.
O título também veio depois, em referência à cantiga de roda “sete e sete são catorze, com mais sete vinte e um, tenho sete namorados só posso casar com um”. Na comédia romântica “Qual o seu número?” a protagonista lê em uma revista que mulheres que tiveram mais de 20 parceiros não tem chances de casar, o que adiciona uma outra camada à escolha desse número aparentemente arbitrário.
Amor Recreativo é um livro com 53 poemas, não dá para falar sobre todos eles numa carta só – nem acho que vocês gostariam disso, mas se quiserem, fiquem à vontade para pedir as histórias dos seus preferidos nos comentários (sei que tem gente daqui que já leu).
Depois de passado o sofrimento da criação e a ansiedade da publicação, consigo olhar para esse livro com um carinho renovado, quiçá até um certo orgulho. Um livro que eu via como um monte de confissões bobas escritas no calor da paixão ou no frio da desilusão agora encaro como um trabalho coeso, baseado em referências e técnicas, pesquisas e vivências. Afinal, poesia não é bagunça e não é qualquer palavra embaixo da outra que faz um poema. Mais importante ainda: depois que dei corpo a Amor Recreativo me sinto ainda mais preparada e entusiasmada para continuar esse trabalho de amor que é dar corpo ao poema, tirar algo que tenho dentro de mim e colocar para fora para que se torne também do outro.
Parceria Com.Tato
Em março me tornei Parceira Literária da
, uma agência de curadoria de comunicação que fortalece a imagem de autores, autoras e editoras e que também tem uma newsletter gratuita aqui no Substack, a . Além de oferecer serviços editoriais e de divulgação, a Com.Tato também promove o Tato Literário, uma premiação anual para obras inéditas de autores e autoras independentes e a Revista Tato Literário, que abre chamadas de publicação periódicas.Na prática, isso significa que vou receber livros para ler e resenhar! Vou concentrar os conteúdos no meu blog leialuiza.wordpress.com e nos meus perfis do Instagram @lulumilk e @leialuizablog, mas vou trazer as recomendações para cá também e eventualmente divulgar alguma iniciativa interessante – como por exemplo o curso de plaquetes que a minha amiga Thaís Campolina vai oferecer em maio! As inscrições já estão abertas no site da Com.tato e tem mais informações no post abaixo:
Recomendações
Para ler📚
Conto ou não conto, de Ana Helena Reis. Editora Paraquedas. Esse é o livro de estreia da autora e tem 34 contos curtos sobre as mais diversas situações cotidianas. Leia mais sobre o livro aqui.
Para ver📽📺
Pedido irlandês, na Netflix. Comédia romântica bobinha, porém com paisagens irlandesas de tirar o fôlego. Curti, mas teve pouco beijo. Essa geração Z que não gosta de pegação está matando o cinema.
Cinco encontros às cegas, no Prime Video. Outra comédia romântica, mas com camadas mais profundas. Uma jovem de origem chinesa precisa sair em 5 encontros para conhecer o homem ideal para casar e ajudar no seu negócio, uma loja de chá tradicional que vai mal das pernas. Além das situações românticas, tem todo um debate entre seguir seus sonhos e agradar às expectativas da família.
Dirk Gently's Holistic Detective Agency, na Netflix. Baseado nos livros de Douglas Adams, foi cancelada pela BBC America depois da segunda temporada, que ainda não vi, mas gostei bastante da primeira.
Agenda📅
Alô galera do Rio e Niterói! Terça-feira, 16/04 às 18h, será a última oportunidade em um bom tempo para você garantir Amor Recreativo autografado. Vai rolar também um bate-papo sobre o processo criativo do livro e um sarau na Sala Carlos Couto (Rua Quinze de Novembro, 35 - Centro), em Niterói.
E pra quem é do online, dia 29/04 o clube de leitura Quem quer ler da
vai ler e discutir o Amor Recreativo. Espero vocês lá!
Esta publicação é gratuita, mas se você gosta do que escrevo e gostaria de me apoiar para além da leitura, pode me pagar um café no pix: luiza.leite.ferreira@gmail.com
adoro essas histórias de bastidores da escrita...