Quinta-feira, 02 de maio de 2024
Acordo às cinco da manhã. É cedo demais, mas não consigo recuperar o estado de sonolência. Me dou conta de que acordar tão cedo é uma benção, uma fatia de tempo recuperada. Às cinco da manhã não há e-mails para ler e responder, ou qualquer outra tarefa que não possa ser iniciada em horário comercial. Das cinco às nove tenho quatro horas para usar como eu quiser e não preciso pensar muito para escolher o que fazer: ler um livro.
Ergo a cortina para jogar uma luz fraca para dentro do quarto e percebo o vidro molhado. Não choveu ontem. Então é assim o orvalho? Essa umidade grossa que lava as janelas antes de despertarmos? Ou terá sido o suor das janelas do quarto que dormiu com o ar-condicionado ligado?
Às cinco os carros não zunem na pista e posso ouvir o pio rouco das rolinhas e de outros pequenos pássaros cujo canto não reconheço. Posso ouvir o vento que roça nas folhas das árvores. Posso ouvir o silêncio da casa como um edredom branco e macio.
“As coisas estão sempre ali, aqui, alheias, mas também à espera do nosso olhar. As crianças sabem disso naturalmente. Reparam nos detalhes mais óbvios, o ruído de fundo de nossos dias (...)” Quem diz isso é Luiza Leite, minha xará de nome e ofício, no ensaio “A superfície dos dias: o poema como modo de perceber”, enviado em março para assinantes da Círculo de Poemas.
Evocando poetas como Laura Wittner, William Carlos Williams, Bernadette Mayer, Cecília Pavón entre outros, Luiza exalta a singularidade das coisas que viram poema. As pequenas transformações que acontecem no tempo e criam novas coisas a serem percebidas e capturadas pelo olhar gentil do poeta.
“Perceber a singularidade das coisas, e também dos seres e dos fenômenos, é deixar-se afetar. “Sou feita de você”, escreve Bernadette Mayer, que anotou tudo que acontecia durante um dia de inverno para escrever Midwinter Day, um dos seus livros mais celebrados justamente por ser atravessado pela vida enquanto acontece.” p. 17
O sol já ilumina o quarto, através de uma fina tela de nuvens que o vento dará conta de dispersar. O verde das folhas por trás das gotas no vidro é como um caleidoscópio visto pelo meu astigmatismo. A vida é muito bonita quando a gente presta atenção.
Delírios: vozes de amores (não) vividos
Recebi o livro da Raisa Santos na parceria literária com a
e amei a leitura. Devorei os 6 contos de uma só vez e escrevi minhas impressões lá no blog.Music makes the people come together
O show da Madonna foi tudo e mais um pouco. Não acompanhei tão de perto a carreira da rainha do pop, o que talvez explique meu contentamento em vê-la através de um telão. Mas ainda assim levei meu corpo livre de short e cropped para a praia de Copacabana para testemunhar o evento ao lado de pessoas queridas, essas sim, fãs de carteirinha, que sabiam de cor o setlist.
Se eu tivesse ficado em casa teria visto o show com mais nitidez e conforto; mas se eu não tivesse ido à praia eu não teria visto o acontecimento que foi ver um milhão e seiscentas mil pessoas (haters vão dizer que foram menos) que amam Madonna completamente realizadas, encantadas, dançando, cantando, comprando todos os produtos de merchandising que os camelôs se empenharam em providenciar. Uma Copacabana inteira unida para ver uma sexagenária dançando, promovendo a igualdade e exalando liberdade é um espetáculo à parte
SOS RS
O Rio Grande do Sul está vivendo um evento climático extremo há mais de duas semanas. Não tem como ignorar o impacto dessa tragédia de magnitude sem precedentes. Enquanto o governo do estado não fez muito para evitar os desastres, o povo brasileiro se uniu de várias maneiras para apoiar a população atingida: através de doações de alimentos, água, remédios, roupas, dinheiro, trabalho voluntário no local.
A galera da literatura encontrou formas criativas de incentivar as doações e vários coletivos de escritores e profissionais do livro lançaram rifas solidárias com livros, aulões e outras recompensas para mobilizar a população a ajudar o RS. O Publica Niterói, coletivo de autores e profissionais do livro de Niterói do qual participo, também lançou sua rifa solidária para apoiar a Livraria Taverna, no centro de Porto Alegre, que ficou submersa na enchente. Colaborando com um PIX para a livraria a partir de 10 reais, você concorre a uma cesta com dezenas de livros de autores da cidade – incluindo minhas obras Amor Recreativo e Fruteira.
É um movimento bonito de ver, tantas iniciativas de ajuda surgindo Brasil afora, mas dá um aperto no coração de pensar que essa não será a última vez que viveremos desastres assim. Agora é o estado do Maranhão, onde eu nasci, que está afogado em enchentes, no início do ano foi a Baixada Fluminense que sofreu com as chuvas, assim como Petrópolis, cidade serrana do Rio de Janeiro que todo verão treme quando ouve um trovão – o que não quer dizer que devemos normalizar o desastre, mas aprender com ele.
“Temos que pensar como espécie e, como espécie, é pensar daqui pra frente.” – Nikelen Witter na fala transcrita pela Ana Rusche nessa edição da Anacronista
Recomendações
Para ler📚
Talvez este não seja o meu ano, poemas de Jules de Faria. Editora Paraquedas. Recebido na parceria literária com a
Para ver📽📺
A vingança está na moda, na Netflix. Filme de 2015 adaptado do romance australiano The dressmaker com Kate Winslet e Liam Hemsworth. Um deslumbre de figurinos, mas não assista pensando que verá uma história de amor (esse foi o meu erro). Um misto de Bola de sebo (Guy de Maupassant) e Dogville (Lars Von Trier).
Para apoiar💞
Ação Cidadania PIX: sos@acaodacidadania.org.br
GRAD - Grupo de Resposta a Animais em Desastres PIX: 54465282000121
CUFA (Central Única das Favelas) PIX doacoes@cufa.org.br
Livraria Taverna PIX: livrariataverna@gmail.com – fazendo um PIX a partir de 10 reais você pode concorrer a uma cesta cultural com dezenas de livros de artistas de Niterói. Para participar do sorteio, envie o comprovante da doação para publicaniteroi@gmail.com.
Esta publicação é gratuita, mas se você gosta do que escrevo e gostaria de me apoiar para além da leitura, pode me pagar um café no pix: luiza.leite.ferreira@gmail.com
Cada dia acordo mais cedo e vejo o sol nascer. Então, leio.
é bom demais acordar bem cedinho, principalmente no verão quando o dia amanhece mais cedo. quero voltar a fazer isso, mas no inverno já acho bem mais difícil. Bjks