Hoje, 10/12, é aniversário de Emily Dickinson, poeta norte-americana. Nascida em Amherst, Massachussets, em 1830, Emily Dickinson foi uma escritora notoriamente reclusa e exepcionalmente prolífica. Escreveu mais de mil poemas, tendo publicado apenas alguns em vida, em periódicos, mas nenhum livro todo seu. Desde sua morte em 1886, várias foram as tentativas de editar e publicar seus poemas, muitos escritos em fascículos costurados a mão por ela, outros em folhas soltas, cartas, bilhetes, espalhados entre o acervo de seus herdeiros. Em 2016, a pesquisadora Cristanne Miller organizou uma edição completa dos poemas de Emily: Emily Dickinson's Poems: As She Preserved Them, que serviu de base para a tradução do Prof. Adalberto Müller, publicada em edição bilíngue dividida em dois volumes editados pelas editoras da UnB e da Unicamp em 2020: Poesia completa – Volume I: Os fascículos e Poesia completa – Volume II: Folhas soltas e perdidas.
Tive a oportunidade de estudar alguns poemas da Emily Dickinson esse semestre com o próprio Adalberto Müller em uma disciplina da pós-gradução em Estudos da Literatura da UFF.
Em homenagem a essa poeta que se tornou uma referência na minha poesia, reproduzo a seguir o poema que inspirou o título dessa newsletter, seguido da tradução do Prof. Adalberto Müller conforme publicado no Volume I da Poesia Completa traduzida.
I’m Nobody! Who are you?
Are you – Nobody – too?
Then there’s a pair of us!
Don’t tell! they’d banish us – you know! [they’d] advertise
How dreary – to be – Somebody!
How public – like a Frog –
To tell your name – the livelong June – [To tell] one’s
To an admiring Bog*
Eu sou Ninguém! Você é Quem?
Você — é Ninguém — também?
Então somos um par!
Não conta, podem te expulsar! [Podem] publicarQue chato — ser — Alguém
Se mostrando — como o Sapo —
Na beira do Brejo — [do] seu
Sempre com o mesmo papo —DICKINSON, Emily. Poesia completa de Emily Dickinson Volume I: Os fascículos (edição bilíngue). Trad. Adalberto Müller. Prefácio de Cristanne Miller. Campinas, SP: Editora da UNICAMP. Brasília: Editora UnB, 2020.
A primeira informação que registrei sobre Emily Dickinson quando conheci seu nome ainda na adolescência foi o fato de ter morrido sem nunca publicar seus poemas. Me pareceu trágico, não conhecer em vida a fama que sua poesia conquistou.
Só fui ler a poesia de Emily Dickinson anos mais tarde, primeiro na tradução de Isa Mara Lando (Loucas noites), depois na de Augusto de Campos (Não sou ninguém). E agora, na tradução do Adalberto, que tive o privilégio de conhecer graças à UFF. Mas o que me levou a buscar a poesia da Emily foi a série Dickinson do Apple TV+, que maratonei na pandemia.
Nesse poema sobre Ninguém, fica claro que a fama, para Emily, nunca foi almejada. Ela dedicou sua vida à escrita e sabia que este seria seu legado, sua carta para o mundo. Como quem enterra uma cápsula do tempo ou um baú do tesouro, ou quem planta uma tamareira, Emily nos deixou centenas de poemas majestosos sem a menor pretensão de colher os frutos de seu trabalho em vida. Ela encarou a poesia como missão e se dedicou a ela de corpo e alma, sem se preocupar em ser Alguém. Uma verdadeira artista.
Nessa semana de Prêmio Jabuti, rolaram muitas discussões que acompanhei de longe sobre os finalistas. “Fulano merecia ganhar, beltrano não merecia. A arte de fulano comunica o espírito do nosso tempo, a arte de beltrano não comunica nada.” Não mergulho no debate, me contento em ficar na superfície, boiando nesse mar de opiniões sobre o que é e não é merecedor de prêmio, de ser considerado arte. Num grupo de escritoras amigas, uma nos lembra que arte também é fruição — e tudo bem se uma obra for só isso. Já nos colocamos tanta pressão para dar conta de tudo, lembra outra.
Devia nos ser concedido o direito de sermos apenas artistas, fantasio, e em seguida lembro que preciso reforçar o marketing do novo livro, ir a lançamentos de amigos para fazer networking e postar conteúdo novo para não ser esquecida pelo algoritmo — e ser confundida com uma empreendedora no processo. Esse desejo de ser Alguém me consome.
Numa semana de retorno à rotina normal de trabalho e encerramentos de ciclos nos cursos da pós e do Sesc, o ponto alto talvez tenha sido um poema que compus no caminho do mercado para casa num fim de tarde, inspirada pelo canto das cigarras.
Sobre cigarras
Sobre jabutis
Pelo menos sobre uma vitória do Jabuti eu sou capaz de opinar: o prêmio de tradução para o livro Finnegans Rivolta, de James Joyce, foi merecidíssimo. O livro tem organização de Dirce Waltrick do Amarante e tradução do coletivo Finnegans, que inclui outro professor da UFF que admiro, Vitor Alevato do Amaral.
O que eu li essa semana📚
A news da
tocou fundo por aqui. Ser amigo de escritor não deve ser nada fácil, mas ser escritor e ter amigos que não ligam pro que você escreve é um outro patamar de ansiedades. Felizmente não sou a única a sofrer dessa angústia e a solução é razoavelmente simples: ter amigos que também escrevem. O famoso esquema de pirâmide.A retrospectiva de 2023 em shows da
é de dar inveja e um quentinho no coração ao mesmo tempo.A
escreveu um diário da Flip e contou como foi especial o sarau da Calí Boreaz do qual participamos.O som do pólen derramado, de Yara Fers (poesia). Editora Arpillera.
Agenda🗓️
Eventos que planejo ou gostaria de ir
Rio de Janeiro
Hoje (10/12)
Lançamento de Amargo, da Alê Magalhães. Domingo, 10/12 das 10h30 às 14h30 no Capitu Café, Espaço Alienista. Rua Cosme Velho, 174.
Lançamento das plaquetes da coleção Aqui + agora na Janela Livraria. Vou lá prestigiar a querida
e sua Dancing Queen (colabora, clima carioca). Às 15h, na Janela do Jardim Botânico (Rua Maria Angélica, 171B).
Terça-feira (12/12), lançamento de Ressaca, de Bruno Jalles. Às 19h, no Oscar Selvagem Pub (Rua Paulo Barreto, 121, Botafogo).
Quinta-feira (14/12), lançamento de Amor Recreativo, meu novo livro de poemas. Às 19h30, no mesmo Oscar Selvagem Pub (Rua Paulo Barreto, 121, Botafogo). Leia um poema do livro aqui.
São Paulo
Sexta-feira (15/12), lançamento da plaquete Fio Condutor: de Angélica à Maria, do Coletivo Zarafas, do qual minha amiga Thaís Campolina faz parte. às 19h na Livraria Patuscada (Rua Luis Murat, 40, Vila Madalena).
Sábado (16/12), lançamento dos livros Cabeça do cão na fenda do muro, de Armando Martinelli e Uma canção desafinada de Luísa para Ravi, de Lia d’Assis, às 17h na mesma Livraria Patuscada (Rua Luis Murat, 40, Vila Madalena).
Eu vi essa seria sobre Emily Dickinson e me encantei. Agora lendo esse poema e suas palavras to ainda mais curiosa em me aprofundar na escrita dela. Obrigada ☺️
Eu gosto de ser ninguém, ou algo assim, as expectativas das pessoas sobre mim me privam de liberdade. Já refletiu sobre isso? Tô curiosa pra saber como vc se sente em relação as expectativas dos outros pra você. Beijo!!
Muito legal o contexto sobre a Emily Dickinson e saber o seu enredo no entorno!