Tudo que eu faço nasce do impulso. Mais que uma vontade ou desejo, o impulso é aquela coisa que te empurra a sair do lugar e a agir. Essa newsletter nasceu de um impulso.
Em 2021, comprei um curso do Domestika de uma das minhas referências de escrita,
, autora dos romances As águas-vivas não sabem de si e Cidades afundam em dias normais, e da newsletter Uma palavra, a primeira newsletter literária que acompanhei. O curso, chamado Técnicas criativas para transformar ideias em textos, tem uma estrutura simples e didática, propondo exercícios para soltar a criatividade na escrita, mas também planejar e organizar uma publicação de newsletter. E foi nessa parte do conteúdo que eu travei. Tudo bem escrever, tentar técnicas novas, mas colocar em prática? Entregar um trabalho final como prova de que exercitei os conhecimentos apreendidos? Pareceu demais para mim na época, levar um projeto a cabo e acabei não terminando o curso (ainda).Mas voltando ao impulso. Meu livro de poesia nasceu de um impulso. Ou talvez de um pontapé.
Digo que aprendi a escrever poesia conforme aprendi a escrever. Minha mãe sempre incentivou a leitura em casa, e com 2 anos de idade eu já manuseava gibis e ficava olhando as figuras tentando entender. Cecília Meireles foi minha primeira referência poética, assim como imagino a de muitas crianças Brasil afora. Eu gostava do poema As Meninas, sobretudo de desenhar as diferentes meninas do poema. Arabela, que abria janela, Carolina que erguia a cortina e Maria que sorria e dizia bom dia. Gostava das rimas. Meu primeiro poema era todo rimado. Escrevi com minha mãe na volta da escola, por volta dos 7 ou 8 anos. Eu falei uma frase, ela completou com uma rima e seguimos assim. Era sobre a escola:
Ah, como eu adoro a minha escola
cheia de carambolaVejo todo mundo brincando
debaixo do pé de jamboE o pé de cajá?
ah que vontade que dá!
Daí por diante, todos os meus poemas nasceram de impulsos, lampejos, rompantes. E o livro “É na cacofonia que eu me escuto”, também.
Há anos eu não escrevia poesia. Ou melhor, achava que não escrevia, porque as anotações aleatórias em bordas de caderno e bloquinhos de anotação não eram poesia. Passei a adolescência recheando cadernos com poemas melosos de amor – alguns dos quais compuseram uma antologia caseira organizada por minha mãe. Tive um blog aos 20 e poucos, onde escrevia poemas e observações cotidianas. Depois tive outros blogs, mas não para poesia. Poesia mesmo ficava só em cadernos improvisados, nem tinham mais lugar próprio. Até que veio a pandemia, aquele medo de o mundo se acabar e o que restaria de nós, o que restaria de mim? Meia dúzia de cadernos com versos inacabados que mal podiam ser chamados de poemas. Abri um caderno novo e comecei a me dedicar de verdade aos meus poemas.
Conversei com um amigo escritor que estava lançando seu primeiro livro. Ver sua poesia materializada em minhas mãos me deu uma coceirinha. Era o impulso de que eu precisava. Eu também podia ter um livro só meu nas mãos. Passei a escrever com mais constância, a editar meus textos, mostrar para alguns amigos. Me diziam que o livro ainda não estava exatamente pronto, mas não desanimei. Mexi, remexi, cortei, reescrevi. Mandei para várias editoras num único impulso e esperei. Funcionou.
O livro nasceu, ganhou o mundo, e por meio dele pude conhecer outras escritoras como eu que catapultam suas palavras pelo espaço movidas por seus próprios impulsos. Foi num impulso que decidi participar da Flip 2022 junto com o Coletivo Escreviventes e de lá pra cá tenho sido movida por esses impulsos de escrever, conhecer, publicar, ler, compartilhar, ampliando minhas conexões, saindo da minha bolha. Fiz oficinas, participei de saraus, clubes de leitura, tudo que pode me ajudar a escrever e conhecer gente que escreve.
E aqui estamos. Dia 08/08 meu primeiro livro completa 1 ano de publicação. Um ano que mergulhei de cabeça nessa aventura de ser autora independente, de fazer amizade com estranhos movidos pelo amor à literatura, de pegar num microfone e soltar a voz azul para recitar minha poesia e regurgitar tudo aquilo que eu não grito.
E estou pronta para começar tudo de novo.
Não, esse ainda não é um anúncio de livro novo a caminho. É mais uma manifestação pra ver se o universo me atende. Tenho três livros na gaveta prontos para ganhar o mundo. Um está concorrendo a um concurso, outro foi enviado para editoras, o terceiro está recebendo os toques finais e já tenho planos para um quarto – e mais umas duas ou três plaquetes. Nada mal para quem não conseguia dar cabo de um projeto sequer.
Nessa semana de super lua em Aquário, fiz uns registros amadores no meu Instagram e uma playlist com músicas lunares. Afinal, que melhor forma eu de passar a sexta-feira à noite? Por um momento me senti transportada pra minha adolescência. Enquanto as amigas iam na festinha beijar bocas duvidosas eu virava noites baixando músicas pelo LimeWire pra escutar no player rosa do Winamp.
Melhor que isso só receber um “oi” do crush cujo assunto se esgotava em três frases ou jogar The Sims (jogar The Sims era mais satisfatório).
Comecei um curso aos sábados no Sesc Niterói sobre expressões artísticas e feminismos latino-americanos. Mais uma oportunidade de soltar a escrita e conhecer gente que escreve. Estou animada. Até a próxima carta!
O que eu li essa semana
Tradução da estrada, Laura Wittner
De uma a outra ilha, Ana Martins Marques
Fiquei emocionada com nossa foto aqui. 🌷 Nossos impulsos nos levaram ao encontro ❤️ bora encher essa vida de luz. Beijocas!