Lendo fora de casa #2
A padaria de bairro
Peguei um ônibus e vim para a ponta mais distante do bairro nobre, do outro lado do canal, para deixar um pacote para uma amiga. Só vinha aqui na adolescência visitar outra amiga que já mora em outro estado há uns dez anos. A última vez que frequentei essa parte do bairro foi há sete anos. Estremeço com medo de encontrar o ex-alguma-coisa que eu visitava aqui, mas me acalmo quando lembro que ele se mudou.
No caminho para deixar o pacote, encontro uma padaria-cafeteria, com mesas na calçada. Não tenho pressa, decido tomar um café e apreciar a leitura antes de concluir minha tarefa. Escolho uma mesa longe da rua, ainda receosa de ser vista, mas também consciente de que estou sozinha; não sinto que mereço uma mesa mais espaçosa. Me acomodo perto do balcão e peço um coado, bem barato. Chega rápido.
O ambiente é cálido, luz amarela, tem uma TV ligada na sessão da tarde, um filme de cachorro passando. A padaria está cheia, mas não sinto a pressão de comer e sair, ninguém olha para ninguém. A fila do caixa só cresce, é a hora do lanche da tarde, cheiro de pão fresquinho.
Bebo meu café e até avanço umas páginas do livro em prosa poética e fotografia, mas uma mosca avoeja em volta, ameaça pousar no café, me desconcentra, me desafia, e além disso tem os sons de talheres tilintando nas xícaras, a moça que grita os pedidos para a cozinha. O livro é bom, as fotos me ajudam a imaginar um passeio em meio a ruínas gregas, mas não me prende o bastante para ignorar a balbúrdia ao redor.
Termino a leitura e o café um tanto irritada, pago a conta, e decido que padarias não são o ambiente mais propício à leitura – mas compro brioches de milho bem gostosos que valeram a viagem.
Avaliação: 2/5
Livro: Os gatos da rua Ésquilo, Camila de Moura (Telaranha)
Padaria Atlântica, Icaraí, Niterói. 28 de janeiro de 2025.
Este foi o segundo texto da série “Lendo fora de casa”. Leia o primeiro aqui:
Outras leituras
- explica como eu escuto música
Martha Medeiros falou em um parágrafo o que eu estou digerindo há semanas sobre o filme Homem com H. Apenas assistam e sintam orgulho de viver no mesmo tempo que Ney Matogrosso.
Algumas nostalgias do passado pelas letras da
.
O próximo encontro da Casa das Poetas será no dia 29/05 com o livro da Camila Felix, Amassando o pão que o diabo me deu. Participe se inscrevendo aqui.
Ontem (23/05) assisti a uma conferência da tradutora Francesca Cricelli no III Colóquio Tradução e Criação do Núcleo de Tradução e Criação da Universidade Federal Fluminense, onde faço mestrado. A tradutora, mais conhecida pelas suas traduções do italiano, acabou indo morar na Islândia com o companheiro, tradutor do islandês, e nos últimos anos tem se dedicado a aprender o idioma e a traduzir dele também. Foi uma fala muito bonita fazendo paralelos com o livro de Jhumpa Lahirir In altre parole, em que a escritora indiana criada no Reino Unido conta sua jornada de aprender e escrever em italiano. Aprender línguas é tão bonito. Foi uma bela fala de encerramento para um evento sobre pesquisas belíssimas em tradução e (re)criação de textos literários. Deixo aqui alguns poemas nórdicos traduzidos pela Francesca e outros tradutores.
Nesse colóquio também apresentei um pouco das minhas traduções de poemas da Adelaide Crapsey, poeta dos EUA que cunhou uma forma poética inédita em língua inglesa, chamada de cinquain. Se quiser ler mais sobre a minha pesquisa, publiquei ano passado um capítulo em coautoria com meu orientador no volume 18 da coleção Literatura em Movimento, que você pode baixar gratuitamente aqui.
Adorei, me senti lá com você!
Curti esse formato , Lou 🌸