Mais um ano termina e outro começa. Escrevi sobre ciclos há umas duas semanas e sobre a ansiedade de fim do mundo que o fim do ano nos traz ano passado no meu blog. Hoje quero falar sobre portas.
A porta da felicidade
Eu já ensaiei escrever (ou escrevi mesmo e perdi) esse texto em 745 ocasiões diferentes. E é bem possível que eu tenha lido um texto da ou da que use esse tema e estrutura como mote pra falar do que eu vou falar, mas não consegui encontrar. Qualquer plágio é totalmente não intencional.
Todo mundo que foi criança nos anos 90 lembra dela. A porta dos desesperados do Sergio Mallandro. Um programa de TV que ensinava as crianças do jeito mais traumático que escolhas têm consequências. Às vezes você ganha a bicicleta, outras vezes um adulto vestido de gorila sai correndo pra te pegar.
Eu morria de medo de adultos fantasiados de gorila. Mas hoje entendo que o medo era mesmo de escolher errado. Libriana raiz, fazer escolhas sempre foi minha maior fraqueza. Há uma sabedoria popular que diz: “quem não escolhe, é escolhido”. Por acaso, nas aulas de educação física eu sempre era uma das últimas a ser escolhida para os times de queimada ou bandeirinha. Nas raras vezes em que eu precisava escolher um time, ficava apreensiva com o que os outros pensariam da minha escolha.
Às vezes era confortável deixar que escolhessem por mim. Tenho um amigo que, sabendo da minha dificuldade de escolher, me obriga a decidir o que comer toda vez que estamos juntos. Uma terapia forçada. Sei que a intenção é boa. Mas às vezes eu só quero me deixar guiar por alguém que me conhece tão bem quanto ou melhor do que eu.
Algumas das melhores experiências da minha vida eu só tive coragem de viver porque outra pessoa me abriu a porta. Os intercâmbios, alguns estágios, viagens, meu primeiro livro. Essas vivências se materializaram como opções que eu nunca tinha imaginado. Mais do que escolher por mim, as pessoas ao meu redor me empurraram na direção do que eu queria fazer mas não sabia que podia ou tinha medo. Medo de não ser bom, medo de me arrepender, medo de sofrer. A
sabe do que estou falando, com seu inventário de medos. Houve um tempo em que me senti mal por essas coisas que eu fiz não terem partido de mim. Hoje entendo que essas portas apenas me foram apresentadas, mas a escolha de atravessá-las foi 100% minha.Meu 2023 foi cheio de portas que se abriram. Algumas eu precisei de ajuda para enxergar que estavam ali, mas quando as percebi, não hesitei em bater, pedir licença e entrar. Conheci novas pessoas dentro e fora do mundo literário, fiz novas amizades, acessei espaços que me pareciam vedados e hoje sei que posso ocupar. Em 2024, vem aí a Luiza mestranda de literatura, 10 anos depois de terminar a graduação em comunicação. Um novo começo, um novo caminho para seguir, novas portas para abrir.
Portas e janelas
Mais uma porta se fechou. Outra janela se abriu.
Quanto tempo mais até que todas as portas e janelas tenham se aberto e se fechado?
Haverão janelas e portas suficientes?
Por que não podem abrir-se ao mesmo tempo?
E o que aconteceria se todas fechassem-se na mesma hora?
Mais uma janela se abriu. E mais à frente outra porta se fechará.
Portas se fecham e janelas se abrem.
E se fosse o contrário?
Portas abrindo, janelas fechando...
Portas são mais fáceis, não precisam ser puladas.
Janelas são sedutoras, te dão um vislumbre do que está por vir.
Quando uma porta se fecha, será pra sempre?
Não existem chaves perdidas pelo caminho para reabri-las?
Gostaria de saber como é viver num mundo de portas que não se trancam e janelas fáceis de se pular.— poema de 2010 encontrado nos rascunhos do meu blog Não gosto, não publicaria como está, mas vale pelo tema.
Nesse fim de ano, no entanto, pensei em fechar algumas portas. Reavaliei algumas relações e situações e vi que não ganho nada em deixar algumas portas entreabertas sem saber o que pode entrar por elas. Fechar portas também é uma escolha, e não precisa ser limitante; pode ser libertador se livrar de caminhos que não levam a lugar algum.
Ao mesmo tempo que destranco novas possibilidades para 2024, também deixo para trás aquilo que não me serve mais. Nada de adultos disfarçados de gorilas: só quero abrir as portas que me levem à felicidade.
A porta dos desesperados do Sergio Mallandro é inspirada num programa estadunidense dos anos 70 que gerou uma solução probabilística conhecida como Problema de Monty Hall (nome do apresentador do tal programa). A primeira vez que li sobre esse problema foi no livro Serena, do Ian McEwan. O livro é recheado de referências matemáticas e literárias e me marcou bastante. Escrevi um texto que fala muito e não explica nada sobre ele aqui.
Ritual de prosperidade
No 1º dia do mês, pegue um pouco de canela em pó e coloque na palma da mão. Em seguida, fique na frente da porta de entrada da sua casa, como se você fosse entrar no local.
Estenda a palma da mão que está com canela e repita a frase: "Quando essa canela eu soprar, a prosperidade aqui irá adentrar. Quando essa canela eu soprar, a fartura virá para ficar. Quando essa canela eu soprar, a abundância aqui irá morar!".
Fonte: Terra
Últimas leituras📚
Autobiografia de um polvo e outras narrativas de antecipação, Vinciane Despret. Bazar do Tempo, 2022.
O despertar é vermelho, Daniela Viana. Patuá, 2023.
Esse lúcido artigo da Jana Viscardi sobre os escritores que estão catando pelo em ovo por causa da lista de leituras obrigatórias da Fuvest para 2026-2028.
O desanimador panorama do consumo de livros no Brasil (só 16% da população compra livros) publicado pelo Publishnews no início do mês.
As últimas news da Vanessa Guedes, da Paula Maria, da Carina Bacelar (que eu citei lá em cima) e do
que deixa todos os homens no chinelo com a declaração de amor que ele fez pra Nathália. Desconheço homem mais apaixonado que ele.Maria Eduarda não precisa de uma tábua Ouija, conto da Thaís Campolina disponível em eBook Kindle. Esse eu li em maio, mas aproveitei o aniversário de 3 anos do conto pra divulgar aqui (de novo, talvez?) porque é bom demais. No Kindle Unlimited a leitura é gratuita.
Agenda 📅
06/01: Dia de Reis e também de Lavradio Literário na Praça Emilinha Borba, na Lapa, dentro da programação da Feira do Lavradio. Lançamento da Revista Lira nº 5, com matéria de capa assinada por mim.
18/01: Corujão da Poesia e lançamento do Calendário da Lira 2024 “Cenas da Poesia” na Casa da Utopia, em Niterói.
A Lira é uma revista literária de poesia trimestral com edições digitais gratuitas que está sempre aberta para recebimento de poemas e conta com financiamento coletivo para se manter. Você pode contribuir com um apoio pontual, um apoio mensal, uma assinatura ou comprando as revistas e brindes nas feiras e eventos literários em que ela está presente. Saiba mais sobre a Lira no site: https://apoia.se/lira
Feliz 2024!
Que o ano que chega nos traga muitas alegrias, banhos de mar, leituras prazerosas, abraços quentinhos e momentos de respiro – porque a correria é garantida. A você que me acompanhou nesse meio ano, meu muito obrigada e sinceros votos de paz, saúde, amor e renovação no ano que se avizinha.
Feliz Ano Novo!
Ninguém fala de Serena, que é um ótimo livro esquecido do Ewan McEwan. Mas quem precisa de Ewan quando se tem Daniel? Ele deixa todos no chinelo ❤️
Ganhei o dia com a referencia <3