Falei que não ia ter edição essa semana e aqui estou. Ganhei um tempo extra no feriado e resolvi botar as leituras de newsletter em dia. Eis aqui reflexões provocadas por alguns dos textos que li na última semana.
De onde se é
Nasci em São Luís, Maranhão. Apesar disso, só vivi 2 meses lá. Meus pais não são de lá. Meus pais são de Volta Redonda, onde morei por 6 meses depois do Maranhão. E depois vim para Niterói, onde morei a vida toda, com exceção de 1 ano e 8 meses em que morei respectivamente em Montreal, Canadá (2 meses), Guildford, Inglaterra (1 ano) e Barra da Tijuca, Rio de Janeiro (6 meses). Ainda assim, em qualquer oportunidade, digo que nasci no Maranhão, apesar de não ter muita conexão com o estado (minha avó materna, por um grande caso, veio de lá antes de se estabelecer em Volta Redonda – todos os meus avós vieram de outros lugares antes de parar em Volta Redonda). Pode não fazer sentido, mas eu gosto de ser ludovicense (gentílico de quem nasce em São Luís), gosto desse pedacinho da minha história que também foi só um pedacinho da história dos meus pais, que hoje vivem há mais tempo em outras cidades do que viveram em Volta Redonda. E gosto, claro, de ser de Niterói, essa amostra grátis de Rio de Janeiro que faço questão de louvar em toda oportunidade. Acho que esses pedacinhos enriquecem nossas histórias.
Hábitos de leitura
Nesta última parte de uma série de 4 textos sobre hábitos de leitura, a
fala sobre a experiência de passear em livrarias e bibliotecas para aguçar o desejo de ler, coisa que eu também adoro. Sempre entro buscando uma coisa, ou nenhuma, e saindo com muito mais do que eu imaginava (nem que seja só uma lista de coisas para comprar na volta). Da última vez que estive na biblioteca do Sesc Niterói para um lançamento de livro, aproveitei para vasculhar as estantes e saí com uma edição de Dublinenes, do James Joyce, para me ambientar ao escritor antes de começar o Ulisses.Ler e reler
Tive o privilégio de ter uma infância recheada de livros, muitos dos quais guardo ainda com muito carinho. Meus livros de criança eu li e reli até ficarem amassados e ensebados, mas depois de adulta o hábito da releitura diminuiu. Há tanta coisa nova para ler e descobrir! Fico ansiosa de “perder tempo” com leituras repetidas, mas reconheço que há grande prazer na releitura sim. Para não dizer que não sou adepta desse hábito, posso dizer que já reli Emma, Orgulho e Preconceito e Persuasão, de Jane Austen, pelo menos uma vez. Emma foi minha primeira leitura “adulta” em inglês, quando eu tinha 15 anos. Uma releitura anos mais tarde foi necessária para captar toda as nuances do idioma que minha versão adolescente ainda não dominava.
Com Orgulho e preconceito foi uma questão de estudo pessoal: li a primeira vez traduzido, de uma edição da biblioteca da escola que me pareceu muito fina, e a segunda vez no original, na qual desconfiei que a versão da escola pudesse ter resumido certos acontecimentos (ou a memória me pregou peças, difícil dizer. Nem lembro mais a edição que li).
Já com Persuasão, foi mais pelo prazer de saborear novamente aquela história, e me surpreender ao descobrir personanges e discursos que eu tinha ignorado na primeira lida. Devo ter lido primeiro com 20 poucos, depois uma segunda vez para um clube de leitura com vinte muitos, e a terceira vez foi durante a pandemia, com 30 ou quase.
Outra releitura que me veio à mente agora foi a de Wide Sargasso Sea (Vasto mar de sargasso) de Jean Rhys, também em inglês. Peguei emprestado de uma amiga, devorei, e para não esquecer tão rápido, recomecei a ler no dia seguinte antes de devolver. O livro narra a história de Berta, a esposa que o Sr. Rochester mantinha presa no sótão em Jane Eyre (outro que reli), antes de se casar e ser levada à loucura.
Padrões ou prisões de beleza?
O mundo gira e as expectativas sociais sobre como uma mulher deve se mostrar no mundo nunca saem de pauta. Com 11 anos eu já me preocupava com minha barriga. Aos 12 fui a primeira menina da sala a depilar os pelos da perna. Pinto a raiz dos meus cabelos desde os 15, quando uma estagiária da professora de artes achou que era uma boa ideia comentar em voz alta numa sala cheia de garotos que eu tinha 3 fios brancos. Uso sutiãs de bojo cheios de arames que me apertam para acomodar meus seios a um formato que só vejo em manequins de plástico ou mulheres com próteses de silicone.
Hoje, aos 33, sei que não preciso fazer nada disso, mas sempre há um olhar ou comentário esquisito. Prefiro evitar a fadiga.
Quando bati o sobrepeso (pela primeira vez na vida! Passei a adolescência me sentindo gorda sem ser) pós-pandêmico, não gostei de mim, não gostei de não caber nas minhas roupas. Fiz o que estava ao meu alcance (dieta e exercício), voltei ao peso de sempre (que sempre pareceu muito acima do ideal de quando eu tinha 12 anos). Podia ter emagrecido mais? Podia. Mas fiquei satisfeita com esse peso de adulta pela primeira vez.
Com as pernas parei de me preocupar. Alguém vai mesmo olhar se os pelos estão aparecendo? Paciência.
Os cabelos continuo pintando de castanho. Hoje, menos por pressão, e mais por me sentir bonita assim. No fim das contas, é o que mais importa: se sentir bem consigo mesma.
Agenda📅
Nosso encontro da Casa das Poetas sobre o livro Escamas de mil peixes acontece na quinta-feira, 04/04, às 20h pelo Google Meet. Ainda dá tempo de se inscrever:
SAVE THE DATE! Terça-feira, 16/04 às 18h farei uma sessão de autógrafos de Amor Recreativo na Sala Carlos Couto, em Niterói. Vai ter bate-papo, venda de livros e outras coisitas. Mais detalhes na próxima edição!
Esta publicação é gratuita, mas se você gosta do que escrevo e gostaria de me apoiar para além da leitura, pode me pagar um café no pix: luiza.leite.ferreira@gmail.com
compartilho dessa sensação de "perder tempo" ao reler livros. e também sinto um pouco de medo de acabar achando chato ou ruim um livro que antes eu tinha gostado.
Adorei saber um pouco da sua história ali, e por ler minha cartinha <3