Querido caderno

Querido caderno,

Que saudade eu estava de percorrer suas páginas, reler anotações de meses passados… parecem tão antigas, deslocadas — foi mesmo a minha mão que as escreveu? Reconheço a letra, mas não reconheço eu.

Há poemas neste caderno que já compõem um novo livro, acredita? Outros ainda esperam, pacientes, seu momento de serem lidos, conhecidos, falados. Mas ainda precisam ser editados. Alguns talvez nunca deixem essas páginas, assim como outros versos quebrados ficaram guardados em cadernos antigos, que cada vez menos revisito. Quem buscará esses escritos se não eu?

Hoje senti saudade de escrever em suas folhas. Quase um mês sem esse exercício! Terei perdido a prática, saberei ainda como se faz? Tantas vezes duvido que escrevo poesia…

Ontem mesmo li poemas de poetas de verdade e me perguntei o que estou fazendo, o que são essas linhas? Apenas rimas bonitinhas, confissões da adolescente que já não sou mais, reflexões do meu íntimo que pouco tem valor para a grande arte. Se meus poemas não provocam mudança nem salvam vidas, terão alguma serventia? De que valem essas angústias que transbordam ao papel de forma tão descuidada se não tocarem outras pessoas além de mim?

Não posso evitar esse sentimento de inadequação e descabimento. Mas não posso evitar esse jorro de palavras transbordando o que tenho dentro. Desculpe a falta de jeito, caderno. Espero que aceite essas linhas.

---

Bloqueio

Tirar os móveis e objetos de dentro da caixa

passar horas arrumando os espaços

quarto sala banheiro terraço

como a casa dos sonhos de verdade

olhar as bonecas em vestidos de festa

e não saber que história contar naquele cenário

suspirar, fracassada

e guardar tudo de volta na caixa

---

Agenda 📅

• Hoje tem roda de conversa do Coletivo Escreviventes no Capitu Café, no Cosme Velho a partir das 16h.

• A cerimônia do Oscar será transmitida em algum canal de TV pago a partir das 20h de Brasília.

• Sábado, 16/03, tem lançamento da coletânea de poesia do Coletivo Lã Terna às 13h na biblioteca do Sesc Niterói.

Recados

• Essa edição foi inteiramente formulada e editada por celular (pode ter uma formatação esquisita nos links por conta disso, peço desculpas). Usei o recurso fala-para-texto do teclado Android para ditar o texto principal que escrevi a mão. Fica a dica.

• Choveu muito na noite passada e mais uma vez Niterói sucumbiu ao caos. Madrugada de picos de luz e agora sem wi-fi.

• Assistam Ficção americana no Prime Vídeo.

• Leiam O avesso da pele e Outono de carne estranha e lutem contra a censura burra.

• Escutem o podcast Rabiscos pra entender essa história (tem também matéria no Estadão e na Folha):

• Parece que tem livro novo vindo aí. Mas antes farei mais eventos de lançamento do Amor Recreativo, que inclusive está participando de uma promoção no site da Patuá — só até hoje. Acompanhem.

• Por hoje é só.

  ---