Uma tarde de inverno em Niterói
... ou reflexões de uma millenial cansada e sem assunto
No dia em que fui mais feliz
Eu vi um avião
Se espelhar no seu olhar
Até sumirDe lá pra cá não sei
Caminho ao longo do canal
Faço longas cartas pra ninguém
E o inverno no Leblon é quase glacial- Adriana Calcanhotto, Inverno
O inverno de 2023 veio parcelado a perder de vista. Usei lã e bota em alguns dias de abril, outros de maio, alguns em junho, quase nada em julho, e precisei dobrar o número de cobertas em certos dias de agosto. Culpa do El Niño, esse fenômeno climático brincalhão. Depois de três anos de La Niña e invernos rigorosamente invernais e longos, dava até para receber essa onda de calor com um sorriso no rosto. Afinal, cariocas não gostam de dias nublados, como diz outra canção de Adriana Calcanhoto. Mas cariocas (mesmo eu não sendo uma, a rigor) gostam mesmo é de reclamar, então vamos reclamar do calor e do frio não importa a estação.
Nos 5 segundos de inverno que tivemos em agosto após um pico de 40 graus que me animou até a dar um mergulho no mar para refrescar, meus dias foram morosos. Aquela típica preguiça do frio que só dá vontade de ficar na cama sob as cobertas assistindo qualquer coisa e comendo sem parar. Não sei vocês, mas o inverno ataca minhas lombrigas. Imagine como não fiquei nos longos invernos pandêmicos, esses sim, gelados.
Pois bem. Na terça-feira, o dia mais gelado desse último inverno de 4 dias, depois de entregar um trabalho que me consumiu ao longo da semana anterior, me entreguei à preguiça invernal (ou ao descanso merecido) e fui assistir a um clássico do audiovisual millenial, o Orgulho e Preconceito dos anos 2000: O diário de Bridget Jones.
Mergulhada no sofá sob um cobertor de fleece e apoiada por uma dezena de almofadas, me senti a própria Barbie depressiva enquanto assistia pela enésima vez minha heroína trintona entrar em cilada após cilada.
Tenho pensado muito sobre Bridget Jones nessa fase da minha vida. Me encontro hoje com 32 anos, a mesma idade da personagem. Curiosamente, também compartilhamos o mesmo peso. A diferença é que, enquanto Bridget era gorda demais para os tóxicos padrões de 2001, sou considerada magra em 2023. Assim como Bridget, também me encontro muitas vezes em situações em que me sinto inadequada, seja pelas minhas roupas, meu conhecimento ou pelo ambiente mesmo.
O que mais amo em Bridget Jones é sua confiança e determinação. Quando tudo dá errado na vida amorosa, Bridget muda seu foco para a carreira, a saúde e o bem-estar. Arruma um emprego novo em uma área diferente mesmo sem ter experiência, corta os cigarros, entra na academia, se atreve a cozinhar receitas novas. Tudo na cara (de pau) e na coragem. E apesar de todas as trapalhadas, tendo tudo para dar errado (e às vezes dá mesmo, vide a sopa azul), ela é bem-sucedida. Por que ela se dedica ao que se propõe a fazer. Não pensa muito se vai dar certo ou não: ela só vai. E só ir já é metade do esforço.
Depois desse descanso acompanhado de lição de vida, renovei as energias para enfrentar os desafios que a semana me trouxe na minha melhor cara de pau, sem medo do resultado, apenas confiando no processo.
P.s.: é *óbvio* que eu também amo a parte do romance. Seja no século XIX ou no século XXI, Mr. Darcy continua o retrato do homem imperfeito ideal.
O que eu li essa semana 📚
Orlando, de Virginia Woolf, na tradução de Cecília Meireles. Empréstimo da biblioteca do Sesc Niterói.
Roupa de ganho, de Clara Bezerra, livro de poesia que flui como um rio. Cortesia da Com.tato. Em breve resenha no Leia Luiza.
Esse texto sensacional da
sobre as orcas organizadas que começaram a atacar embarcações de ricos no estreito de Gibraltar. Tão maravilhoso que me fez sonhar com as baleias.O dossiê exclusivo sobre Elvira Vigna para apoiadores da Aline Valek. Se você curte a escrita da Aline e ainda não assina, esse é o sinal que você estava esperando.
Outras escritas 📝
Tudo aquilo que eu não grito, poema do meu livro É na cacofonia que eu me escuto, publicado no portal da Fazia Poesia.
Vai à Bienal do Rio? Indiquei 10 autores independentes que estarão marcando presença num dos maiores eventos literários do país. Pretendo dar uma passada por lá também no início da semana.
Amoras, poema do ano passado repostado no Instagram com uma colagem digital inédita de minha autoria, com base em fotos também feitas por mim.
Por hoje é só. Semana longa, tempo curto. Foi o que deu para fazer em matéria de newsletter.
Deve ter uns 2 anos que revi Bridget Jones, com aquele medinho de não gostar igual, sabe? Mas foi tão gostoso, amo filmes daquela época, ainda mais comédias românticas britânicas... aquecem qualquer inverno!
Precisando rever Bridget, deve fazer uns dez anos que não assisto. A parte do romance me diverte para caramba, principalmente porque acho bem prafrentex ela ter tipo dois namorados em disputa. :) beijocas