Esta carta vale pelo domingo passado (04/02) e pelo próximo (11/02). Depois do carnaval, voltamos à programação normal de todo domingo (será?)
Fiz uma resolução de ano novo. No meu último mergulho no mar no dia 29 de dezembro de 2023, eu me prometi duas coisas: não adiar a felicidade e não depender de ninguém para ser feliz. Quantas vezes eu deixei de ir a algum lugar ou fazer alguma atividade porque eu não tinha companhia? Ou perdi tempo esperando alguém enquanto já podia estar curtindo o que quer fosse desde cedo? Ou me deixei ficar numa situação insatisfatória porque estava acompanhada e não queria perder a companhia? Cada vez mais tenho olhado para as coisas que faço e com quem eu faço para analisar se me faz feliz.
O último domingo foi um exemplo disso. Fui encontrar amigas num bloco de carnaval bem conceituado. Estava tudo lindo e perfeito… até o bloco começar a andar e as pessoas começarem a empurrar e me apertar e eu me sentir sufocada e apertada numa lata de sardinha. Na primeira oportunidade me despedi da amiga mais próxima e busquei a liberdade. Fui atrás de um bloco com mais espaço para respirar, mesmo sem saber se ia encontrar alguém conhecido. Felizmente achei uma amiga, mas mesmo que não tivesse encontrado, a música e a brisa eram tudo que eu precisava naquele momento.
Tenho pensado sobre as coisas que me fazem feliz. Ir à praia é uma coisa que eu gosto muito de fazer e que eu já não dependo de outras pessoas para fazer junto há algum tempo. Assim como o cinema, a caminhada, escrever. Junto da minha resolução de ano novo, inaugurei um novo caderno de colagens. Na primeira folha do caderno eu escrevi: “Só o que me faz feliz” e desde então eu tenho me concentrado nessa frase, em tentar descobrir o que é que me faz feliz. Parece simples, mas às vezes a gente não sabe na ponta da língua, às vezes a gente precisa se investigar e olhar para aquela coisa que a gente faz tão automaticamente e entender “nossa, isso me faz feliz”.
Então eu tenho compilado nesse caderno em forma de colagens e desenhos as coisas que me trazem alegria. Já tenho páginas sobre leitura, chocolate, praia, ócio, mar, pássaros, e outras coisas mais que estou descobrindo. Carnaval é uma coisa que me faz feliz e é um dos motivos de eu não ter enviado a newsletter no domingo passado, porque entre planejar o texto e preparar minhas fantasias, eu escolhi as fantasias. Fantasiar me faz feliz, em todos os sentidos.
Houve um tempo em que eu não gostava de carnaval. Eu nunca gostei muito de muvuca, perrengue, calor, gente bêbada – tudo que é quase impossível de evitar no carnaval. Sempre gostei das fantasias, da folia, dos confetes e serpentinas. Desde criança minha mãe me levava aos bailinhos infantis de clubes além da festa da escola. Vestir a fantasia era e sempre foi o meu barato. Quando eu tinha uns 3 anos, ainda na creche, pedi à minha mãe uma “roupa rosa que roda e que brilha”. Ela me arrumou um vestido rosa-claro de saia de tule bufante e brilhos prateados e um chapéu cônico rosa com estrelas e meia-lua prateadas, me vestiu como uma linda fada. Depois, assistindo desfile de carnaval na TV, ela conta que eu apontei para uma porta-bandeira e falei “é essa mãe, a roupa que roda e que brilha!”. Ah, ta.
Na adolescência, eu ficava em casa ou viajava pra ver a família. O carnaval de 2002 foi emblemático: fiz uma cirurgia na perna esquerda para retirar um osteocondroma da canela e passei o carnaval em casa pulando numa perna só. Foi quando aprendi a jogar buraco, e eu e minha mãe passamos os quatro dias em casa jogando e assistindo os desfile na TV até tarde.
Lembro de uma sexta-feira de carnaval em Santa Teresa na casa do meu pai, o bloco das Carmelitas passando na porta do prédio dele. Concordei em descer e ficar na escada só olhando, era de noite e eu fiquei intimidada com a balbúrdia. Meu pai me comprou uma máscara de borboleta, ficamos ali na escada, olhando o bloco, mas devo ter voltado pro quarto em seguida para dormir e viajar no dia seguinte.
Corta para 2010 e 2011, eu já na faculdade e com um grupo de amigos festeiros de humanas. Comecei a ir a alguns blocos no Rio, mas sem muita fantasia porque talvez fosse cringe. Éramos meninas de shortinho e arquinho na cabeça, no máximo um glitter no rosto, nem batom vermelho se ousava usar. Minha alegria era estar com aquelas pessoas, porque sambar eu não sabia e beber não era meu forte. Nem um Cordão do Bola Preta me impedia de pegar a barca e atravessar a Rio Branco sozinha com 2 milhões de pessoas para chegar à Lapa e encontrar minha turma, mesmo debaixo de chuva. No Aterro, íamos a blocos gigantes e encontrar retardatários era uma tarefa impossível, mas eu sempre dava um jeito de resgatar os perdidos e garantir que todo mundo curtisse junto.
Perdi os carnavais de 2012 e 2013 morando fora. Em 2014 e 2015 estava meio enferrujada, desacostumada com a multidão, sem saber quais eram os blocos bons, me deixei ser guiada por um novo grupo de amigos. Em 2016, fiz novos amigos que duraram só o carnaval e curti todos os dias caprichando em diferentes versões de sereia. Dali em diante minhas fantasias se tornaram mais festivas, com saias de tule que rodam e brilham e uma maquiagem mais marcante. No último carnaval antes da pandemia, levei um gringo pro bloco e ele me levou pra Sapucaí no desfile das campeãs. Mesmo com o mundo se acabando em chuva e a gente indo embora no meio, foi uma experiência inesquecível. Em 2018, conheci a turma que me acompanha até hoje e a cada ano agrego novos e velhos amigos à minha programação que se divide entre Rio e Niterói.
Todos os anos tenho que lutar contra a preguiça e tirar as fantasias da caixa para ver o que ainda presta, o que pode ser remodelado. Gosto de me montar, de vestir brilhos e andar pelas ruas como um personagem de desenho animado, uma criatura deslocada no meio da cidade, e acho mágico quando o contrário acontece, a cidade é que se sente deslocada no meio dos foliões fantasiados e das fanfarras e sinfônicas. Todo ano eu fico preocupada de passar muito calor, de cair doente com a epidemia do momento (esse ano no Rio é a dengue), de ser furtada, de ser assediada. E todo ano eu driblo a preguiça e o medo e caio na folia com minhas roupas brilhantes, atravesso a baía, encontro e desencontro amigos, descubro novos blocos, corro atrás do boi tolo, perco a voz de tanto cantar e volto a acreditar que só viver já é a maior felicidade.
Recomendações da semana
Para ler 📚
Dias medidos em xícaras de café, Gabriele Rosa. Editora Urutau.
Vem pro bola, meu bem: crônicas e histórias do Cordão da Bola Preta, André Diniz e Diogo Cunha. Numa Editora (obs: revisei esse livro)
Essa resenha do Jornal Nota sobre Amor Recreativo
O segundo texto da série Caminhos da publicação sobre zines e plaquetes lá no blog.
A news da
que resume um pouco o que eu senti assistindo os filmes recomendados abaixo.
Para ver 📽📺
Pobres criaturas, no cinema
Vidas passadas, no cinema
Para ouvir🎶
Agenda🎉
Sujeita a alterações
10/02: Prata Preta + Terreirada (Rio)
11/02: Sinfônica Ambulante + Boi Tolo (Rio)
12/02: Terra de Ninguém (Niterói) + Comuna que pariu (Rio)
13/02: Os imortais (Niterói)
17/02: Sinfônica Ambulante (Niterói)
Agenda📅
Sábado, 17/02, às 18h: Sarau Epoché na Casa 33 em Botafogo.
Terça-feira, 20/02, às 20h: clube de leitura online Casa das Poetas. Vamos ler o livro da Gabriele Rosa, Dias medidos em xícaras de café. Todo mundo pode participar, mesmo sem ter lido o livro.
Foliã animada, que seja um ótimo feriado ✨✨✨
bloco de carnaval eu passo… prefiro o conforto do ar condicionado de uma sala de cinema. rs