Ziraldo
Perdi a conta de quantas vezes li aquele livrinho sobre um menino maluquinho de panela na cabeça e paletó. Um menino que tinha macaquinhos no sótão e queria abraçar o mundo com as pernas – sempre gostei dessa expressão: abraçar o mundo. E com as pernas, coisa difícil porque quem abraça são os braços, as pernas no máximo esperneiam. Mas eu não me ligava muito nessas coisas quando criança.
A história do menino maluquinho é a história de um menino feliz. Um menino feliz que joga bola e apronta todas com os amigos. Que tem um avô passarinho inventor de mil coisas (eu também tivre um avô passarinho). Que tem um pai e uma mãe que um dia se separam, vão cada um para um lado. Nunca me esqueço da sua Teoria dos lados:
Todo lado tem seu lado
Eu sou meu próprio lado
Mas posso viver ao lado
Do seu lado que era meu
Reli muitas vezes esse livro enquanto meus pais se separavam e eu aprendia a viver do lado de um, do lado de outro e do meu próprio lado.
Depois do menino, veio a professora. Todo mundo teve uma professora maluquinha uma vez na vida. Eu tive algumas. Tive verdadeira adoração por uma professora cuja metade do nome era igual ao meu: Luiza. Que alegria era aprender português e geografia com ela e até matemática. Lembro até hoje de ela contando uma história desenhando no quadro o desenvolvimento da trama até transformar numa figura de cisne. Que genial! Contei e desenhei aquela história muitas vezes em casa.
Sempre gostei de colorir. Tinha uma cor em especial que eu não sabia o nome e era preterida entre os rosas e azuis, parecia um marrom desbotado ou um amarelo queimado, mas pra mim era cor de ouro, mel. Descobri com Ziraldo que se chamava Flicts e era a cor da lua.
Nas bienais do livro, era imperativo voltar para casa com um livro do Ziraldo. O joelho Juvenal, Anedotas do Bichinho da Maçã, Os dez amigos, O ABC do Louro, Menina das Estrelas, entre vários outros. Tive a sorte de estar com o autor pessoalmente e ter meus livros autografados em algumas ocasiões.
A última vez foi em Niterói, no lançamento de Meninas, em 2016.
Ziraldo se foi aos 92 anos e choramos por perder o pai de tantas crianças e personagens inesquecíveis que coloriram nossa infância. Mas ele nos deixa um mundo de histórias para redescobrir e matar as saudades e ter a certeza de que Ziraldo, como seu menino maluquinho, fez muita gente feliz.
Qual o seu livro preferido do Ziraldo?
Recomendações
Para ler📚
A nova edição da Revista Vida Secreta, com uma seleção de poemas do Amor Recreativo. Grátis para ler, mas considere apoiar se curtir o trabalho.
Afetos postiços, de Gabriele Rosa. Ofícios Terrestres, 2023.
Para ver📽📺
Amor e amizade (2016), no Prime Video. Uma adaptação de Lady Susan, romance curto de Jane Austen escrito em seus anos de juventude e publicado postumamente.
Anatomia de uma queda (2023), no Prime Video. Merece todo o hype.
Da colina Kokuriko (2011), na Netflix. Mais um filme fofo do Studio Ghibli para aquecer o coração. Nos anos 1960, em Yokohama, jovens do ensino médio se unem para salvar a sede dos clubes estudantis que seria demolida para as Olimpíadas. Umi, uma jovem que vive em uma pensão e cuida da irmã mais nova, desenvolve uma amizade com um dos rapazes do clube e se junta à causa enquanto descobrem laços do passado que os unem.
Para visitar🎫
Exposição interativa “Mundo Zira” no CCBB Rio, até 13/05. Ainda não fui, mas pretendo.
Agenda📅
O livro do mês de abril do clube Quem quer ler, conduzido pela
, será Amor Recreativo! O encontro online acontecerá no dia 29/04 às 19h. Dá tempo de encomendar o livro no site da Editora Patuá! Para participar, basta se inscrever aqui.Dia 16/04 às 18h farei uma noite de autógrafos com bate-papo e leituras na Sala Carlos Couto, em Niterói. Quem puder aparecer, vai me deixar muito feliz!
Esta publicação é gratuita, mas se você gosta do que escrevo e gostaria de me apoiar para além da leitura, pode me pagar um café no pix: luiza.leite.ferreira@gmail.com
que lindo!!
Poucos mexeram tanto com gerações inteiras! Daniel tava me contando que só do Maluquinho foram 10 milhões vendidos. Nesse país, isso é histórico. Que alegria foi ter Ziraldo dividindo o tempo e o espaço com a gente.