Querides assinantes,
Escrevo a vocês depois de um longo silêncio. Foram tempos caóticos por aqui, como imagino que tenha sido para vocês também. Fim de ano, aquela loucura, todo mundo correndo pra dar conta das pendências, encontrar todo mundo, festa da firma, amigo oculto.
Aliás, esse ano vou participar de um amigo oculto da firma pela primeira vez. E depois de muitos anos sem participar de amigo oculto. É estranho, porque trabalho remotamente e quase não conheço meus colegas de equipe, parte deles eu só vi duas vezes: na entrevista e no dia de pegar o crachá (que nunca uso). Por isso estou animada com a perspectiva de participar dessa atividade coletiva, mesmo sabendo que confraternização de trabalho é um troço esquisito (como mostra o vídeo maravilhoso abaixo).
Mas me perco. O fato é que eu não sabia o que escrever (como acontece com todo escritor de tempos em tempos). Então resolvi testar várias ideias (como acontece com todo escritor).
Tentativa #1
Pensei em fazer uma edição numérica, como essa da Paula Maria:
Mas com um olhar diferente: uma retrospectiva do meu ano através dos meus e-mails, partindo da ideia de que a caixa de entrada é como uma gaveta virtual que diz muito sobre a dona, e listando todos os eventos que eu fui ao longo do ano. Um trecho:
Nossa caixa de entrada é uma espécie de arquivo. Uma cápsula de memórias. Dá para conhecer muito de uma pessoa analisando os emails que ela recebe. Por exemplo, é possível inferir que sou uma leitora ou que trabalho com livros pelo número de newsletters de editoras e projetos editoriais que se acumulam na minha caixa de email. E que apesar de assinar muitas newsletters (66), não estou nada em dia com a maioria delas. Uma leitora que não lê é um belo clichê. Assim como a escritora que não escreve.
Revirando o arquivo desse ano, encontrei um ingresso de festival de música de janeiro que eu não fui. (…) Depois desse ingresso desperdiçado, namorei muitos shows e festivais mas só fui a 1: o mega show da Madonna na Praia de Copacabana (valeu pelo ano inteiro, vai). Ah, e rolou 1 concerto de piano clássico no Theatro Municipal de Niterói.
Continuando, descobri pelos meus emails que fui a 3 peças de teatro este ano. Uma em agosto no Parque Laje, para ver um amigo de infância subir ao palco depois de 15 anos. Outra no mesmo mês, no Leblon, para ver Luiza Romão encenar Também guardamos pedras aqui. E outra em outubro, em Niterói, para ver mais de vinte atores com síndrome de Down e outras deficiências intelectuais encenarem uma adaptação de Hamlet de forma surpreendente.
Eventos literários foram muitos. Me canso só de lembrar. Vou tentar listar apenas os que eu fui a trabalho: Lavradio Literário (4), Flip (1), Flopei (1), palestras/rodas de conversa (6), saraus (...incontáveis…), apresentações acadêmicas (2), mediações em clubes de leitura (2), convidada em clubes de leitura (1).
Em termos de publicações, foi um ano prolífico:
5 poemas na Revista Tato Literário
1 ensaio poético na Fazia Poesia
1 poema no Portal Aboio
4 poemas na Revista Vida Secreta
7 poemas na revista Ruído Manifesto
1 resenha do Amor Recreativo no Jornal Nota
1 poema publicado na antologia Empodera, mulher!
1 conto publicado na edição 11 – Asas da revista Contos de Samsara
1 nova plaquete, a Galeria de dias normais
1 novo livro no prelo, O livro das pedras
Só que o texto foi ficando meio chato e depois dessa lista prolífica (benzadeus, que mulher produtiva, disse a Aline Valek quando anunciou Amor Recreativo como o melhor livro de poesia do ano segundo os Valekers), eu não sabia pra onde ir. Deixei pra reescrever depois, e como tudo que a gente deixa pra depois, foi ficando mais difícil de mexer, então descartei o rascunho e parti pra outra ideia.
Tentativa #2
Nesse meio tempo, dei uma oficina de plaquetes e zines no Museu Janete Costa de Arte Popular, à convite da Fundação de Arte de Niterói, no evento Vivendo Niterói. Pensei em escrever sobre isso.
Eu estava muito nervosa, era a primeira vez que eu dava essa oficina e a segunda vez que eu ensinava um grupo de pessoas a fazer alguma coisa de maneira mais formal (eu, que sempre relutei em trabalhar como professora). Baseei o conteúdo teórico num texto que escrevi pro blog no início do ano, em que reuni referências e entrevistei pessoas que produzem publicações alternativas, e fui com nervosismo mesmo.
Foi maravilhoso! Para minha surpresa, dez pessoas apareceram para a oficina numa manhã de domingo e se interessaram pela proposta. Apresentei a Fruteira e a Galeria de dias normais, além de uma vasta coleção de outras plaquetes e zines para inspirar a turma e ofereci vários materiais (papéis coloridos, jornais, revistas, canetas, lápis de cor etc). Todos colocaram a mão na massa e fizeram plaquetes com texto, imagem, colagens, desenhos e saíram de lá felizes e cheios de ideias para as próximas plaquetes. Me deram um orgulho só!
Mas aí era só isso o que eu tinha pra contar, então descartei a ideia novamente.
Tentativa #3
Depois eu pensei em fazer uma carta no estilo “Melhores do ano”, como a
e a fizeram; mas só de livros, como fez a .Daí eu lembrei que tenho um blog de literatura (meio abandonado, por sinal) e que essa lista de leituras do ano ficaria melhor alocada lá, e de quebra ainda ressuscitaria esse canal. E foi o que eu fiz. Quem quiser ler, ta aqui: Melhores leituras de 2024.
Tentativa #4
A última semana foi particularmente intensa e não pensei mais em newsletter. Estava terminando um trabalho do mestrado, tinha tarefas do trabalho pra fazer, médicos pra marcar. Passei três dias sem sair de casa, quatro dias sem ver o sol enquanto teminava o texto de quinze páginas sobre Virginia Woolf e romance moderno.
Então lembrei de um texto que comecei a escrever sobre Virginia Woolf em junho quando visitei a exposição Uma casa toda sua sobre a qual já falei aqui. Mas quando entreguei o texto obrigatório eu já estava farta de Virginia Woolf (como acontece quando nos debruçamos muito tempo sobre um assunto).
Tentativa #5
Quando eu finalmente saí da toca depois de entregar o trabalho no último prazo possível, eu estava há vários dias me alimentando mal e precisava ir ao mercado buscar alguns itens de necessidade, como bananas e granola. Minha mãe se ocupou das bananas e outras frutas, e eu parti na missão granola.
Missão, pois não basta ir ao mercado e escolher qualquer granola. Sou muito particular com minhas granolas. Não fui uma criança do cereal, mas depois dos 30 me tornei uma adulta que come iogurte com granola religiosamente pela manhã e eu estava há uma semana sem esse ritual. A última granola que comprei, na preguiça, e porque era mais barata, tinha 30% passas e 30% flocos de arroz. Depois do primeiro dia de aberta, por mais hermético que fosse o pote, os 500g de granola eram uma muxiba só. Horrível. Não, eu não podia comer qualquer granola. Eu tinha terminado uma tarefa difícil, precisava de um prêmio. Precisava comer A granola das granolas. A mais crocante, saborosa e 100% livre de passas e flocos de arroz.
Pensei em transformar minha busca pela granola perfeita numa crônica, como fez a
com a saga por uma batatinha:Mas aí desanimei, quem é que leria uma doida falando de granola? Que as melhores granolas são as mais artesanais que têm uma vovozinha no rótulo (e que podem ser as mais caras)? E que a melhor granola que comi nos últimos tempos só se fabrica em São João del Rei? Que as minhas granolas preferidas têm crocantes castanhas e lascas de coco seco em vez dos muxibentos flocos de arroz e passas?
Abandonei o projeto, não estava com tempo mesmo pra escrever, outras obrigações surgiram. Deixei pro ano que vem.
E assim, sem levar adiante nenhuma ideia, venho aqui, com o rabinho entre as pernas, explicar porque não teve carta. Fiz o que pude, e o que pude não era muito.
Agradeço desde já pela compreensão e espero voltar antes do fim do ano com uma carta de verdade.
Com carinho,
Luiza
Últimas horas para apoiar o livro de poemas Estado febril da Thaís Campolina
Amanhã tem o último dia do evento Vivendo Niterói, com várias oficinas. É grátis, só chegar!
Rodapé
Fiquei tão preocupada de não estourar o limite do email que esqueci de botar mais um número na listinha de produções: hoje lancei meu primeiro EP de poesia falada, em parceria com outras 7 poetas a partir de uma oficina ministrada pela Natasha Felix e com produção de Glau Tavares.
Ouça “Língua Tumulto”:
A arte da capa dessa edição é The Artist's Letter Rack, de William Michael Harnett (1879).
Achei essa edição super interessante! Brilhante de um jeito divertido!
Belas tentativas! Gostei!!