Uma grande vantagem do home office é fazer seu próprio horário. Começo sempre antes das nove e com frequência às 16h já entreguei tudo o que preciso, posso me dar ao luxo de assistir uma reprise de novela, dar uma caminhada, ler um livro – ou avançar na escrita da dissertação.
Em janeiro, depois de uma consulta médica, me vi com tempo de sobra para gastar no bairro nobre da cidade e decidi que seria bom tomar um café em algum lugar gostoso e ler o livro que estava na minha bolsa. Resolvi registrar em crônica algumas das experiências de ler fora de casa. Este é o primeiro texto.
A chocolateria refinada
As mesinhas dispostas na calçada circundadas por buquês de hortênsias falsas me atraíam há muito tempo, mas estavam sempre ocupadas. Nesse dia, chego pouco antes das 16h e encontro todas as mesas livres para mim. É janeiro, mas o estoque da loja ainda está cheio de guirlandas de chocolate, papais-noéis de chocolate, e principalmente panetones de chocolate, todos pela metade do preço, mas ainda muito caros. A placa de giz anunciando a promoção de 1 café espresso + 1 fatia de panetone por 19,90 me convence a entrar. Ajudar a acabar com o estoque de panetone me parece uma nobre missão.
Acabo escolhendo uma mesinha pequena dentro da chocolateria, próxima à janela, deixando as mesas do lado de fora para grupos maiores que começam a chegar em peso tão logo o relógio bate as 16h. Parece combinado, como saída de escola, mas me lembro de que as aulas ainda não voltaram. Então penso que cada cafeteria tem seu público fiel, hoje eu é que estou de turista aqui.
Abro meu livro sobre tradução e retomo a leitura, destacando passagens a lápis nas páginas. Quando meu pedido chega, não me decepciono. A fatia de chocotone vem carregada nas gostas de chocolate, cobertura de chocolate e uma porção extra de calda de chocolate quente. O espresso é um espresso.
Depois de me deleitar, retomo a leitura, mas o público do café não para de aumentar. As mesas de fora já estão todas ocupadas, a outra mesa de dentro onde um funcionário almoçava já está ocupada e sinto olhares perfurantes na minha direção agora que não estou mais consumindo nada, só lendo. Cedo à pressão, termino o capítulo, pago e vou embora. Dificilmente voltarei aqui para ler, mas o panetone deixará saudade.
Avaliação: 3/5

Eu adoro aproveitar qualquer brechinha de tempo livre (leia-se: quando estou esperando por algo, normelmente minha cachorra sair do banho ou algo assim) e me sentar num cafe pra ficar lendo meu livrinho! Mas realmente depois de certo tempo ocupando a mesa, rola uma pressão silenciosa pra desocupa-la…
É realmente muito difícil ler em estabelecimentos, porque a leitura não costuma ser tão consumidora de produtos quanto uma mesa com amigos ou mesmo uma mesa individual. É o desafio do nosso tempo, porque nos locais gratuitos temos outros tipos de incômodos, como as formigas que sobem nas nossas pernas em bancos de praças e parques.